Maternar
Este é o post número 100 (público) do meu blog. Curiosamente é um verbo que não existe mas foi o melhor que arranjei para me referir a ti, mãe.
Olá Mãe. Estive dentro de ti. Carregaste-me, cudas-te de mim, educaste-me, fizeste sacricifios, sofreste por mim. Acompanhas-me há 18 anos. 18 anos de sofrimento, de chatices e de porcarias que nos impedem de ser felizes aos dois. Foste mãe, foste pai, foste e és amiga. És aquela mãe que todos os filhos desejavam ter. Infelizmente a vida colocou-te obstáculos e problemas que também me afectaram a mim. Infelizmente sofreste por causa duma pessoa que não te merecia, que te fez mal. O meu pai. Por causa dele passate os piores anos da tua vida, eu sei. Agora, esse que era o maior obstáculo, partiu. Mas eu continuo a sentir-me culpado, porque às evzes fazes questão de me dizer que a culpa foi toda minha e que voveste infeliz ao lado dele por mim. Às vezes dizes-me isto mas continuas a perguntar por ele. Não acho normal. Continuas a pensar no que ele disse, no que ele fez e faz, se está em casa dele se não. Não compreendo. Porém, gosto de ti mãe. Sempre gostei e sempre vou gostar embora tu digas que não e não aches isso, embora às vezes os nossos feitios não sejam totalmente compatíveis. Sim, às vezes dizemos coisas que não queremos, dizemos coisas estúpidas que não sentimos, porque discutimos e às vezes chego a pensar que discutimos de mais. Não percebo porquê. Às vezes perguntas-me onde falhaste e eu explico-te que não falhaste em lado nenhum, apenas dizes coisas que eu não acho certas. Mas eu percebo-te. Acho que stá tudo relacionado com o que passate, por mim.
Cresci. Já não sou aquele menino dos caracós que gostava de chavinhas. Cresci mãe. Mas continuo a gostar de ti. Os abraços e os beijinhos já não são os mesmo que antes. Já não acontecem tanto. Mas faz parte. Continuo a adorar-te. Para mim, vais sempre aquela pessoa especial. Lutadora. Por isso, aqui te deixo um poema. O poema à mãe.
No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio de um laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade
Até já mãe. Beijinhos*